A Bahia é o estado com mais homicídios dolosos registrados no primeiro quadrimestre de 2024 em território nacional. Dados do Ministério da Justiça e da Segurança Pública (MJ) indicam que, entre janeiro e abril, 1.490 pessoas foram vítimas do crime. Entre os três estados com mais ocorrências, todos são do Nordeste, já que Ceará com 1.106 e Pernambuco com 949 registros ocupam a segunda e a terceira colocação do ranking, respectivamente.
O Ministério não tem os dados de abril referente aos estados de Pernambuco, que no mês referido já tinha 949 registros e ocupava a segunda colocação, e do Rio de Janeiro, que tinha 836 homicídios nos primeiros três meses e estava na terceira colocação. Questionado sobre a metodologia para a disponibilização dos dados, o MJ informou que os números são fornecidos pelas gestões de cada estado, que são responsáveis por contabilizá-los.
“Os dados publicados na página do Ministério da Justiça e Segurança Pública são enviados, consolidados e homologados pelos estados e pelo Distrito Federal. Os entes federados que não constam no mapa são os que ainda não enviaram as informações”, escreve em nota.
Em janeiro, a Bahia tinha 371 registros e, no mês seguinte, já acumulava 725. Em março, o número chegou a 1.131. As ocorrências disponibilizadas pelo MJ deixam o estado com uma média de 13 homicídios dolosos por dia. Só em Salvador, especificamente, a média até aqui é de duas mortes diárias, visto que foram registrados 309 casos no total. O número faz com que a capital concentre 19,20% dos homicídios que ocorreram no estado.
Em Salvador, um dos motivos dessas mortes é o confronto armado entre grupos criminosos, como o que provocou uma semana de tiroteios no bairro de Mirantes de Periperi, no Subúrbio Ferroviário. Antônio Jorge Melo, especialista em segurança pública e coronel reformado da Polícia Militar da Bahia (PM-BA), vê uma conexão clara entre o número de homicídios e o enfrentamento entre as facções criminosas.
“Uma coisa está ligada a outra. Quando você está lidando com facções criminosas, inevitavelmente há confrontos [entre elas] e uma boa parte desses homicídios está ligada a essas ações dessas facções criminosas. A partir do momento que as forças de segurança entram em confronto e causam baixa no crime organizado, há uma tendência a diminuir também esses homicídios”, analisa.
Apesar de ser líder no cenário nacional, a Bahia registrou uma redução de 8,05% nos homicídios do primeiro trimestre de 2023 para 2024. Heloísa Brito, delegada geral da Polícia Civil da Bahia (PC-BA), diz que a diminuição do crime é fruto de várias operações policiais no sentido de prisão e desmantelamento dessas organizações criminosas e na elucidação dos crimes. Em 2024, até aqui, 35 líderes de organizações criminosas foram localizados pela polícia na Bahia.
“Quando a gente faz a prisão de um destes indivíduos [lideranças de organizações], ele não comete um crime só, mas sim vários. Então, um autor deste que, normalmente, a gente consegue fazer a identificação dele por três ou quatro [crimes], como nesse último caso de ‘Porquinho’. Mas nós sabemos que, mesmo não sendo ele o executor, ele determinou o cometimento de vários outros”, explica a delegada.
Porquinho, criminoso citado pela delegada, é Uelquer Silva de Araújo. Ele atuava há mais de 15 anos nas proximidades dos bairros de Pero Vaz e Santa Mônica. Preso na semana passada, em Pernambuco, ele estava no “Baralho do Crime” da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) como a carta “Cinco de Paus”. O criminoso tinha dois mandados de prisão em aberto, sendo um por tráfico de drogas e outro por homicídio.
Procurada para se posicionar sobre o número de homicídios, a SSP ressaltou, justamente, a redução nos crimes, ainda que mantenha a liderança da Bahia na estatística no Brasil. “A SSP-BA destaca que as mortes violentas apresentaram queda de 6% em 2023, na comparação com o ano anterior. Enfatiza também que a ampliação dos investimentos em tecnologia e equipamentos, além da contratação de 3.200 policiais e bombeiros, garantiram no 1° trimestre de 2024, na comparação com o mesmo período de 2023, uma diminuição de 9% dos assassinatos”, diz em nota.
A pasta indica ainda que ações de inteligência resultaram na captura de 4.672 pessoas em 2024, número 6% maior que no ano passado. Horacio Nelson Hastenreiter é professor do Mestrado em Segurança Pública, Justiça e Cidadania e coordenador de inovação da Ufba. Para ele, o aumento é proporcional ao número de conflitos que acabam envolvendo o aparato de segurança e a criminalidade, o que provoca a intervenção policial mais violenta, sobretudo quando há lideranças do tráfico.
“No entanto, uma associação segura da queda no registro de homicídios e aumento das prisões com o aumento das mortes por intervenção policial requer uma análise mais específica do conjunto dos homicídios. Isso para verificar-se geograficamente e por público-alvo como se deu a redução do total de homicídios dolosos, bem como e, especialmente, a condição das mortes por intervenção policial”, opina o professor.
Os números atuais deixam a Bahia com uma taxa de 31,99 homicídios dolosos a cada 100 mil habitantes do estado. No Brasil, em geral, a taxa de registros a cada 100 mil habitantes é de 16,63.
Fonte: Correio/Crédito: Arisson Marinho/CORREIO