Com a alegria das festas juninas chega também a preocupação acerca das queimaduras provocadas em fogueiras, bem como as lesões causadas pelos fogos de artifício neste período do ano. A volta dos eventos presenciais, depois de dois anos de proibição por causa da pandemia, já levou ao registro de 74 casos atendidos no Hospital Geral do Estado (HGE) entre 1º a 15 deste mês, número quase o dobro de 2019, quando, entre 23 e 30 de junho foram 40 casos.

Dentre os explosivos, os clandestinos (a exemplo das espadas de fogo) têm maior potencial de perigo, mas para todos os casos é necessário atenção total para evitar acidentes, lembrou o cirurgião-plástico Victor Felzemburg.

Ele é especialista no assunto e atua no HGE, unidade de saúde referência na Bahia para os casos de queimados, que está com uma equipe escalada com cerca de 200 profissionais para receber os casos mais graves vindos de todas as regiões do estado.

Conforme a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), além do HGE, também o Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus (HRSAJ) e o Hospital do Oeste (HO), em Barreiras, têm Centro de Tratamento de Queimados (CTQ), uma espécie de UTI com médicos plantonistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas 24 horas.

Embora este ano a Bahia não tenha deflagrado campanha específica para alertar a população para os perigos da brincadeira com fogos, “a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) estão com campanhas de prevenção para estimular a conscientização”, afirmou Felzemburg.

Ele é secretário da regional Bahia da SBCP e destacou que além de ler os manuais que devem acompanhar os fogos, é importante observar o local adequado, para evitar que terceiros sejam atingidos, bem como imóveis e redes de energia.

Conforme o especialista, todos artefatos representam perigo. “Mesmo uma inocente chuvinha destinada ao público infantil, pode pegar fogo nas roupas e provocar sérias lesões. Por isso um adulto deve sempre estar atento com as crianças”, aconselhou.

Coordenador da cirurgia plástica do Hospital Mater Dei Salvador, o médico Carlos Briglia destacou que o manuseio dos artefatos e das fogueiras deve ser proibido para crianças desacompanhadas de um adulto responsável, bem como por pessoas que ingeriram bebidas alcoólicas, pois o perigo é dobrado.

Ele enfatizou que a primeira providência após uma queimadura deve ser “lavar o local com água corrente e sabão, se a pessoa suportar a dor, enrolar com um pano limpo e encaminhar para uma unidade de saúde, para que receba o tratamento adequado para o caso”, disse alertando que não se deve colocar nenhum produto ou medicamento por conta própria.

Ainda conforme Briglia, a diferença principal entre uma explosão e uma queimadura é a forma de lesão, que no primeiro caso é provocado por uma avulsão (extração de um órgão ou parte de órgão), geralmente com perda de partes ou toda a mão. Já a queimadura causada em fogueiras e outros tipos de fogos se concentra na pele, pode ser de diferentes graus de profundidade. Ambos os casos podem levar a óbito.

Brincadeira perigosa

Embora proibida por lei desde 2011, a guerra de espadas continua ocorrendo e, este ano, já deixou entre as vítimas uma criança de 11 anos, da cidade de Cruz das Almas. De acordo com a apuração da Polícia Civil, Alex Ribeiro Costa estava brincando na rua, na noite de 13 de junho, quando um rojão tipo espada de fogo foi solto e atingiu o menino no rosto, quebrando 11 dentes.

Depois de atingida a criança foi encaminhada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade e em seguida transferida para o Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, diante da gravidade da situação.

Estável, mas demandando muitos cuidados, ele permanece internado no HEC. O menino já passou por duas cirurgias e aguarda a realização de uma terceira intervenção, já programada.

Segundo testemunhas, a pessoa que soltou o artefato direcionou para o chão, sem intenção de atingir as pessoas. Ele se apresentou na delegacia, prestou depoimento e vai responder o processo por crime de explosão em liberdade.

De acordo com a Secretaria de Saúde de Cruz das Almas, o conselho tutelar está apoiando e acompanha a vítima, considerando que a família se encontra em estado de vulnerabilidade social.

Em nota a prefeitura reforçou que a guerra de espadas, apesar de ser uma tradição, está proibida e que o poder judiciário e as forças de segurança são os responsáveis pela fiscalização.

“A Prefeitura alerta a população para que cumpra a decisão judicial, reconhecendo os riscos da guerra de espadas, e salienta os cuidados que devem ser adotados ao manejar quaisquer fogos de artifício”, consta na nota.

Fonte: A Tarde