Cidades do interior da Bahia, conhecidas pelas grandes festas de São João, vão investir mais dinheiro nos eventos deste ano do que antes da pandemia, em meio às investigações envolvendo os cachês das grandes estrelas da música sertaneja. Entre dez municípios pesquisados pela reportagem do Jornal Correio, divulgada nesta terça-feira (07), algumas cidades do Recôncavo e Amargosa (Vale do Jiquiriçá) se destacam nos investimentos.

De acordo com o site, pelo menos seis gastarão mais do que em 2019 e, destas seis, quatro estão com situação de emergência decretada por conta das chuvas que causaram devastação em dezembro passado. Juntamente com Jequié, Cruz das Almas e Amargosa são os municípios que mais aumentaram o investimento na festa junina, chegando a 7,5 vezes mais do que o empregado há três anos.

Ainda segundo a reportagem, Amargosa e Cachoeira estão em situação de emergência em decorrência da chuva. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), os gastos, apenas este ano, com Amargosa foram de R$ 294,3 mil e Cachoeira não recebeu repasses. Os dados também não incluem as verbas liberadas no ano passado, quando Amargosa sozinha chegou a receber um repasse de R$ 1,4 milhão.

Amargosa

Foto: reprodução

O São João de Amargosa vai custar R$ 4 milhões, segundo a prefeitura. Desse total, R$ 3 milhões são de recursos próprios, um valor 7,5 vezes maior do que os R$ 354 mil gastos em 2019, de acordo com dados do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia (TCM-BA).

O valor gasto com a festa de Amargosa corresponde a 21% do investimento feito pelo município com o setor de saúde, no ano passado: R$ 14,1 milhão. Mas, segundo Carlitos Muñoz, diretor de Cultura e Turismo do município, além de investimentos diretos na realização do São João, outras áreas são indiretamente beneficiadas com a festa. O município também recebeu R$ 140 mil do governo estadual, via Superintendência de Fomento ao Turismo do Estado (Bahiatursa).

“Para além do São João especificamente, também temos desenvolvido ações paralelas, como melhorias de ruas, iluminação pública, sinalização e cursos de capacitação”, explica Muñoz. A prefeitura de Amargosa estima que sejam movimentados mais de R$ 10 milhões no período junino e gerados cerca de 500 empregos na cidade. No cálculo de gastos per capita – custos totais divididos pelo número de habitantes -, a administração da cidade deve pagar cerca de R$ 79,72 reais por morador.

Cachoeira

Foto: reprodução

Em Cachoeira, alguns contratos ainda estão sendo finalizados e, por isso, a prefeitura não informou quanto dinheiro será investido no São João, apenas disse que será entre R$ 1 e R$ 3 milhões. Cerca de 240 mil pessoas devem passar por Cachoeira nos dias de festa e mais de 300 vendedores ambulantes estarão trabalhando diretamente no evento.

Santo Antônio de Jesus

Foto: Jefinho Imagens Aéreas/ Divulgação

Em Santo Antônio de Jesus, cerca de R$ 5 milhões serão necessários para bancar o evento que acontece entre 22 e 26 de junho. Do valor total, a prefeitura afirma que R$ 3 milhões são de recursos próprios, completados pela iniciativa privada, emendas parlamentares e recursos dos governos estadual e federal. O aumento é de 38% em relação a 2019, quando a prefeitura investiu R$ 2,1 milhões.

Pelo cálculo de gastos per capita, é como se a prefeitura gastasse R$ 29,06 reais por cada um dos 103 mil habitantes. A cidade espera receber cerca de 100 mil pessoas, quase o total da população, em cada um dos cinco dias de festa. Como nenhuma verba é destinada sem expectativa de retorno, o município aguarda uma movimentação financeira quatro vezes maior do que o valor inicialmente gasto. O valor investido na festa junina deste ano representa 7% do que foi investido em saúde em todo o ano de 2021 (R$ 41,9 milhões)

“A expectativa é que a gente movimente acima de R$ 20 milhões na economia local. Desde a venda do amendoim, do pequeno produtor rural, até as grandes casas comerciais e hospedagens”, explica Silvia Brito, secretária de Turismo de Santo Antônio de Jesus. A cidade recebeu R$ 100 mil do governo estadual.

Cruz das Almas

Foto: Diogo Nunes/ reprodução

Famosa pelas ‘guerras de espadas’, a cidade vai desembolsar sozinha R$ 2 milhões, sendo que outros R$ 2,5 milhões são oriundos do Ministério do Turismo, governo do estado, patrocínios e espaços para a exploração de barracas de venda na festa. O valor total chega a R$ 4,5 milhões.

O gasto de Cruz das Almas será mais do que o dobro investido no São João antes da pandemia, R$ 845 mil. O valor representa 12% de toda a verba investida em saúde em 2021 na cidade. O gasto por morador é de R$ 31,45. De acordo com o G1, A prefeitura aguarda 80 mil visitantes por noite e calcula movimentar R$ 5 milhões durante os cinco dias de festa.

Ministério Público de olho

O imbróglio envolvendo a Festa da Banana, em Teolândia, que custaria mais de R$ 2 milhões ao município que figura na lista de cidades em situação de emergência por conta das chuvas, ganhou as redes sociais. Depois da denúncia do Ministério Público da Bahia, a confusão foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que suspendeu a festa que aconteceria entre os dias 4 e 13 de junho, com a participação de Gusttavo Lima.

Em nota divulgada no domingo (5), a prefeita Rosa Baitinga (PP) informou que vai acatar a decisão do tribunal. O promotor e coordenador do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa da Moralidade Administrativa (Caopam), Frank Ferrari, esclarece que o trabalho de fiscalização do MP deve ser feito a todo momento e em diálogo com os gestores municipais.

“A orientação é que os promotores façam um acompanhamento de modo geral. Não é presumindo que algo está errado, é um momento de alerta e conscientização dos gestores […] Percebendo indícios concretos de ilegalidades, cabem investigações específicas para analisar cada caso”, esclarece o promotor.

Em relação ao aumento de verba destinada ao São João, Frank Ferrari afirma que pode indicar a necessidade de um olhar mais aprofundado sobre as despesas públicas. “São aumentos consideráveis, mas não podemos concluir só a partir disso que existe algo ilegal. É preciso provocar o gestor para que ele se justifique”, afirma. No entendimento do promotor, faz sentido as cidades gastarem mais após a não realização da festa em dois anos seguidos.

Questionado, o Ministério Público não respondeu se analisa mais cidades que possam ter cometido irregularidades com contratações este ano e nem se em 2019 municípios foram investigadas pelo mesmo motivo.

Fonte: Jornal Correio e G1