No estado, a BR-101 lidera tanto em número absoluto de acidente, como também as taxas de acidentes perigosos na malha rodoviária. De 2018 a 2021, a estrada teve 3.358 ocorrências registradas, tendo o maior nível de gravidade da Bahia, segundo a coleta de dados.
Para a analista de transporte e tráfego Cristina Aragón, a parte sul da BR-101, onde entorna municípios, como Teixeira de Freitas e Porto Seguro, é mais perigosa que a zona norte da via. Isso porque, no sul, há grande fluxo de transportes de carga pesada de madeira combinado com a ausência de duplicação. Segundo a especialista, os acidentes acontecem quando os caminhões carregados sobem mais devagar por conta da carga e veículos menores tentam ultrapassar justamente em áreas sem pista auxiliar de subida.
“A duplicação é muito importante na segurança do trânsito porque evita a pior colisão, que é a frontal. Esse tipo [geralmente] resulta em morte porque soma as duas velocidades contrárias”, destaca sobre problemas de infraestrutura em rodovias na Bahia.
No último dia 8, um homem ficou ferido após o carro em que dirigia colidir com um caminhão no quilômetro 701 da BR-101, em Eunápolis, extremo sul do estado. O motorista foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A reportagem entrou em contato com a PRF para ter mais detalhes do desdobramento do caso, no entanto, não recebeu resposta.
Já em maio, um acidente na mesma rodovia matou quatro pessoas da mesma família. Desta vez, o local da tragédia foi na entrada da cidade de Pedrão, no dia 24. O carro em que as vítimas estavam bateu contra uma van. As vítimas são um homem e uma mulher, que eram casados, a filha mais nova deles e a sogra do rapaz.
A BR-116 e BR-324 completam, respectivamente, o ranking das três rodovias mais perigosas na Bahia. De 2018 a 2021, a via que passa por Jequié e Canudos acumulou 3.380 acidentes, já a 324, na qual a extensão termina em Salvador, registrou 1.391 ocorrências. Cristina Aragón explica que os números são resultado da proporção com o volume de tráfego.
Ela ainda chama atenção para a BR-242, cuja extensão corta do leste ao oeste do estado, atendendo municípios como Luis Eduardo Magalhães, Barreiras e Lençóis. “Tem um escoamento da soja e algodão, [consequentemente] há trânsito pesado de caminhões. Muitas vezes caminhoneiros fazem transporte com muito estresse não só por questão do assalto mas também pela questão do sono, pois tem carga horária para cumprir e recorrem a estimulantes”, esclarece.
Taxa de severidade
O levantamento ainda ressalta o nível de gravidade que cada estado possui. Dos três mil acidentes neste ano, 618,8 foram com severidade. A Bahia está em sétimo lugar no ranking da taxa de severidade – aquela que calcula peso conforme a gravidade do acidente – do país.
Segundo o coordenador do Núcleo de Infraestrutura, Supply Chain e Logística da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, o acidente que mais mata no mundo inteiro é a colisão frontal, a qual ocorre com “altíssima probabilidade” em pista simples.
“Quando tem concessão, uma obrigação que a concessionária tem é de duplicar. E não é à toa, reduz dramaticamente esses acidentes”, avalia os registros de severidade.
Na Bahia, 71,1% dos acidentes são em rodovias de gestão pública
Dados do levantamento da Fundação Dom Cabral alertam que, na Bahia, 71,1% dos acidentes acontecem em rodovias de gestão pública e 28,9% em rodovias geridas por concessão. No Brasil, estradas federais sob administração governamental tem cerca de 4 vezes mais o risco de acidentes do que nas concedidas.
“Desde que começou a prática de conceder rodovias o poder público se esquivou em relação à manutenção. O que a gente vê é que a qualidade da infraestrutura de uma rodovia concedida é melhor que a gerenciada pelo poder público, não só na Bahia, como em outros estados”, analisa Cristina Aragón.
A especialista em trânsito diz que a disparidade também acontece porque, para haver a concessão, existe uma série de normas e metas que a rodovia deve atender, a exemplo da necessidade de sinalização e pontos de apoio ao longo da extensão.
Para solucionar o cenário, a sugestão de Paulo Resende é ter fontes de financiamento para além do setor público. “[Deve ser um] ciclo virtuoso, no qual o privado financie o público e o público retorne garantindo maior volume de tráfego por melhor infraestrutura e criando novas possibilidades de transferência para iniciativa privada. Não vejo porquê concessionárias pagam impostos e não podemos migrar esses impostos ao investimento das nossas rodovias”, provoca.
10 rodovias federais com mais acidentes de 2018 a 2021 na Bahia:
1 – BR-101: 3.358 (gestão pública)
2 – BR-116: 2.171 (concedida) e 1209 (gestão pública)
3 – BR-324: 1.391 (concedida) e 499 (gestão pública)
4 – BR-242: 1274 (gestão pública)
5 – BR-110: 709 (gestão pública)
6 – BR-407: 556 (gestão pública)
7 – BR-367: 343 (gestão pública)
8 – BR-135: 218 (gestão pública)
9 – BR-020: 193 (gestão pública)
10 – BR-418: 154 (gestão pública)
Fonte: Correio