De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) neste domingo (14), 64% dos leitos destinados no estado para pacientes com a covid-19 estão ocupados. Em relação à ocupação de leitos de UTI, o número é ainda mais elevado: 71%. Pelo menos nove unidades de saúde da Bahia estão com 100% de ocupação de leitos por conta do avanço da doença nas últimas semanas. O cenário é de preocupação entre profissionais de saúde e gestores do estado e do município.
Os hospitais sem vagas na Bahia são: Hospital Geral Cleriston Andrade (100% de ocupação de leitos clínicos – Feira de Santana), Hospital Santa Helena (100% de ocupação de leitos de UTI adulto – Camaçari), Hospital de Referência Itaigara (100% de ocupação de leitos clínicos – Salvador), Hospital do Subúrbio (100% de ocupação de leitos clínicos – Salvador), Hospital Regional Dantas Bião (100% de ocupação de leitos clínicos – Alagoinhas), Hospital Regional Costa Do Cacau (100% de ocupação de leitos clínicos – Ilhéus), Hospital Calixto Midlej Filho (100% de ocupação de leitos clínicos – Itabuna), Hospital Manoel Novaes (100% de ocupação de leitos de UTI pediátrica – Itabuna), Hospital São Vicente (100% de ocupação de leitos de UTI adulto – Jequié).
A Bahia já contabiliza 629.849 casos confirmados da doença, 15.392 casos ativos e 10.735 óbitos. Somente neste domingo, 2.584 casos foram registrados e 61 óbitos. A taxa de mortes vem crescendo conforme os dias de 2021 vêm passando. No primeiro dia do ano, foram registrados 30 óbitos diários. No dia 1º de fevereiro, o número subiu para 39. Na última sexta-feira (12), foram 67 mortes.
A Sesab informou que, na última semana, os números demonstraram uma tendência de crescimento dos óbitos e de quadros clínicos mais graves, o que tem ampliado a taxa de ocupação nas UTIs. “Neste cenário, o Governo da Bahia abriu novos leitos de terapia intensiva nos municípios de Camaçari, Seabra e Barra nos últimos dias e estão previstas ampliações nas cidades de Ilhéus e Porto Seguro, em um esforço para reduzir a pressão na rede assistencial” diz o boletim.
No sábado, o governador Rui Costa alertou para risco de colapso no sistema de saúde. Segundo ele, a Bahia está hoje com níveis de transmissão iguais aos de agosto de 2020, quando os casos ainda cresciam. A média de pacientes para serem regulados nas unidades de saúde, que alternava entre 30 e 40 na Bahia, chegou a 83.
Para Rui, o cenário indica chances de colapso na rede. “Se continuar esse ritmo de crescimento da doença na Bahia, em duas ou três semanas nós podemos estar pior do que estávamos em julho do ano passado e corremos o risco de ter colapso no sistema de saúde, o que, em nenhum momento nós tivemos desde o início da pandemia”, disse.
O governador fez um pedido à população, para que as pessoas não deixem de usar máscara, de higienizar as mãos e de ter distanciamento social. “Fica o meu apelo a você. E se tiver algum sintoma, não acredite no presidente da República. Não é uma gripezinha, a doença mata”, enfatizou.
Desgaste dos profissionais
De acordo com a médica Ana Rita Freire, presidente do sindicato dos médicos do estado da Bahia (Sindimed), o número de pacientes atendidos e internados vem crescendo desde novembro de 2020, quando teve uma queda significativa.
“Em setembro, outubro e novembro, nós ficamos bem animados porque a gente reduziu muito os números e, tanto na rede pública quanto privada, foram desmobilizadas alas dedicadas à covid e hospitais de campanha. Mas foi uma esperança que não se concretizou e existe uma sensação de frustração. Hoje, a gente já percebe uma reversão disso. Um dos hospitais em que eu trabalho, já começa a fazer um sistema de contingenciamento de cirurgias eletivas, justamente para que não haja um colapso do sistema. Isso a gente também tem que atribuir às festividades de final de ano e um certo relaxamento da própria população”, explica Ana Rita.
A presidente também ressalta que, além do maior número de casos de covid, há o risco de ainda mais peso ser colocado sobre o sistema de saúde por conta dos atendimentos de outras doenças que deixaram de ser feitos em 2020 por causa da pandemia. “É o somatório de pacientes que estão sendo internados e operados por doenças que não podem mais esperar, porque já esperou quase um ano, e também pacientes dessa nova onda de contaminação de covid. Existe uma apreensão entre a classe médica de que ocorra uma exaustão do sistema, mas a gente torce para que não”, pontua ela.
Mesmo com a vacina já sendo aplicada em idosos e profissionais de saúde, a luz no fim do túnel ainda parece longe. “Em 2020, era uma doença nova, desconhecida, a gente não sabia o que fazer, o que funcionava. Hoje, temos vacina e uma experiência maior. Mas também, por surpresa, temos um desdobramento dessa doença já em crianças, com quadros gastrointestinais e até cardiológicos já sendo acompanhados”, diz a presidente do Sindimed.
A queda dos números entre setembro e novembro de 2020 e o início da vacinação foram sinal de esperança, mas que duraram pouco. Os casos voltaram a subir e o ritmo da imunização é lento. Enquanto isso, profissionais de saúde seguem doando tempo e esforço na linha de frente do combate ao coronavírus. “Não existe a opção de falta de energia, a gente tem que lutar. Os profissionais de saúde, principalmente nesse momento de pandemia, não podem se dar ao luxo de faltar energia, embora a gente tenha um efetivo esgotado, cansado e, sobretudo, mal reconhecido pelos agentes públicos”, finaliza a médica.
Situação na capital
Em Salvador, a situação também é de alerta e preocupação, já que três dos nove hospitais com 100% de ocupação são da capital e ainda há risco de que a cidade tenha que suprir a demanda do interior do estado. De acordo com o boletim deste domingo, 72% dos leitos de UTI adulto exclusivos para covid-19 em Salvador estão ocupados. O índice nessas unidades chegou a cair para perto de 50% em agosto de 2020.
Procurado pelo CORREIO, o secretário de saúde municipal, Léo Prates, afirmou que a pasta está acompanhando com atenção o quadro da covid-19 na capital. “Apesar de termos fechado sábado com 70% de taxa de ocupação de leitos de UTI, um índice que vem se sustentando ao longo do tempo, a gente sente um aumento da pressão sobre as UPAs. Ontem, nós, com o governo do estado, regulamos cerca de 54 pessoas”, disse o secretário.
Prates destacou ainda que o sistema de saúde está sob pressão e pediu a colaboração da população. “A gente precisa ter atenção, as pessoas precisam redobrar os cuidados porque estamos bem preocupados com essa situação da pressão sobre o sistema de saúde. A demanda por internação nos hospitais vem crescendo, as pessoas precisam entender que a pandemia não acabou”, completou.
Na última sexta-feira (12), o prefeito Bruno Reis (DEM) deu o recado: caso a taxa de ocupação nas UTIs e os números de contaminados pelo coronavírus continuem em ritmo de galope acelerado, adotará novamente medidas mais rígidas de isolamento social para frear a trajetória de crescimento da covid já a partir desta semana.
“O que mais preocupa a gente são os números de novos casos diários, o fator RT (que mede quantos são infectados por alguém contaminado) e a velocidade de aceleração. Então, há risco real de estar circulando outra cepa na cidade, muito mais agressiva, que tem feito os números crescerem, a ponto de trazer grande preocupação”, emendou Reis.
Hospitais cheios…e ruas também
Moradores do bairro da Barra, em Salvador, vêm registrando cenas de muita aglomeração no local nos finais de semana. Os registros mais recentes são do domingo passado, dia sete de fevereiro. As imagens mostram pessoas juntas, algumas delas sem máscaras, no Porto e no Farol, onde apresentações artísticas atraem soteropolitanos e turistas.
Na última quarta-feira, um vídeo de um Bell Marques fake puxando um falso trio elétrico na frente do Farol da Barra viralizou nas redes sociais. Apesar da ausência de aglomeração, algumas pessoas dançavam em volta sem máscara. Na ausência do Carnaval, as alternativas têm sido as praias e os bares.
O prefeito Bruno Reis relembrou que nenhuma comemoração está permitida para os dias de Carnaval, independentemente do número de participantes. Decreto do governo do estado só permite que sejam realizadas solenidades, formaturas e casamentos, sem shows ou músicas ao vivo. Já o decreto municipal autoriza somente voz e violão, em bares e restaurantes.