Uma avaliação federal feita com amostra de estudantes do 2º ano do ensino fundamental de escolas públicas mostra que 17 estados brasileiros não conseguiram alcançar a média do país em conhecimentos de língua portuguesa. Em matemática, foram 18 estados que não atingiram a média. O Bahia Notícias analisou a Bahia, que ficou abaixo da média em todas as áreas examinadas.
Os resultados reforçam o cenário de desigualdade educacional e evidenciam os bons resultados obtidos pelo Ceará nos últimos anos na alfabetização, mesmo com grande percentual de alunos pobres. Das regiões Norte e Nordeste, somente o Ceará conseguiu ficar acima da média nas duas disciplinas. Além disso, as crianças cearenses têm a maior média do Brasil tanto em português quanto em matemática.
Os resultados sobre a avaliação amostral, realizada em 2019, foram divulgados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) nesta quarta-feira (4). Além do 2º ano, uma amostra de estudantes do 9º ano fez testes em ciências da natureza e ciências humanas.
Os resultados apresentados têm uma distribuição dos alunos em níveis de proficiências. No entanto, nem o Inep nem o MEC (Ministério da Educação) definiram quais patamares são considerados como adequados.
Assim, não é possível saber o percentual de estudantes alfabetizados até o 2ª ano do ensino fundamental. O governo espera que, até essa série, as crianças de sete anos de idade estejam alfabetizadas.
A média do Brasil em língua portuguesa foi de 750 pontos. Estudantes do 2º ano com desempenho abaixo desse nível não são capazes, por exemplo, de localizar informação explícita em textos de até seis linhas, como bilhete, ou inferir o assunto de um cartaz – 45% dos estudantes do país estão nessa situação.
Com exceção de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, todos os estados das regiões Centro-oeste, Sul e Sudeste superam a média do país em português. Em matemática, só Ceará e Pernambuco superam a média no Norte e no Nordeste. Nas outras regiões do país, apenas Minas Gerais, Mato Groso e Mato Grosso do Sul ficaram abaixo da média nessa disciplina.
Essa foi a primeira vez que o Inep aplicou a avaliação de alfabetização a estudantes do 2º ano. As provas anteriores ocorreram no 3º ano e, por isso, a comparação dos resultados não é indicada. A última edição havia sido realizada em 2016, quando metade dos alunos apresentou nível insuficiente.
A alfabetização é apontada como prioridade pelo governo Bolsonaro. A matriz da prova (que define o que é avaliado) foi atualizada à luz da nova política do MEC para área. O presidente do Inep, Alexandre Lopes, disse que o governo ainda vai debater a definição das pontuações que reflitam, por exemplo, que uma criança está alfabetizada.
“Nosso objetivo agora foi trazer a nova escala, explicar a matriz e trazer os resultados”, disse ele, durante seminário online que tratou dos resultados. “É o momento de iniciar um debate a respeito disso, do que seria nossa meta. É importante que o Brasil tenha metas de alfabetização.”
A Folha questionou o MEC sobre o assunto mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. A pontuação em português foi dividida em nove níveis. Somente 5% dos estudantes brasileiros alcançaram o nível máximo, que reflete as maiores notas e melhores proficiências auferidas pela avaliação.
Em matemática, a média do país também foi de 750 pontos. Segundo a escala de conhecimentos da prova, estudantes com desempenho abaixo dessa nota na disciplina não conseguem, por exemplo, relacionar um conjunto de moedas (de 5 ou 10 centavos) a uma única moeda de valor equivalente. Metade dos estudantes do 2º ano tiveram resultado inferior a esse parâmetro.
No ano passado, a prova de alfabetização chegou a ser suspensa e só mais tarde decidiu-se pela realização de avaliação amostral. O episódio gerou uma crise que valeu, na ocasião, a demissão da então secretária de Educação Básica do MEC, Tania de Almeida, e do então presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues.
Esses testes amostrais passaram a integrar o Saeb, avaliação federal que compõe o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). O índice é calculado para os 5º e 9º anos do ensino fundamental e 3º do médio.
Nessa séries, a prova é aplicada em todas as escolas em português e matemática. Na última edição, as áreas de ciências da natureza e de ciências humanas foram contempladas em avaliação com uma amostra de alunos.
A média do país foi de 250 pontos em ciências humanas. Segundo os resultados, 52% dos estudantes de 9º ano ficaram abaixo dessa pontuação, o que reflete a incompreensão, por exemplo, do fenômeno natural do deslizamento de terras e a relação com o processo de ocupação de encostas íngremes em contexto urbano.
Nas ciências da natureza, 52% dos estudantes não alcançaram a pontuação média de 250 pontos. São alunos que não conseguem, por exemplo, interpretar resultados de experimentos científicos apresentados nas formas de tabelas e gráficos simples ou reconhecer a importância das vacinas na prevenção de doenças.
Em ciências humanas, Santa Catarina tem a maior nota média e 17 estados ficam abaixo da média do país. Só o Ceará supera a média brasileira nas regiões Norte e Nordeste.
O Distrito Federal alcançou a maior nota em ciências da natureza, enquanto 15 estados ficaram abaixo na média nessa área. Rondônia é o único estado a superar a média de 250 pontos nas regiões Norte e Nordeste.