‘Suspeito morre em confronto com a polícia’. A cada semana, diversas notícias desse tipo se acumulam em sites e redes sociais em todo Brasil. Em um estado do país, no entanto, o cenário é ainda mais grave. A Bahia lidera o ranking de mortes em decorrência de ações policiais pelo segundo ano consecutivo. Só no ano passado, 1.699 pessoas morreram por ações de agentes de segurança que estavam ou não em serviço.

As informações foram reveladas pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira (18). Em 2022, foram 1.467 mortes desse tipo no estado – 232 a menos do que no ano seguinte. O número de pessoas mortas pela ação das polícias Militar e Civil na Bahia vem crescendo desde 2021. Naquele ano, a Bahia ficou atrás do Rio de Janeiro, mas superou o estado do Sudeste nas últimas duas edições da pesquisa.

A disputa das organizações criminosas e a letalidade policial são as maiores causas de mortes violentas em todo o país, segundo o Anuário de Segurança Pública. Dudu Ribeiro, pesquisador da Iniciativa Negra, ressalta que o fato da polícia baiana ser a que mais causa mortes no Brasil, aumenta os índices de violência no estado. De acordo com o Anuário, o risco de uma pessoa negra morrer por intervenção da polícia é 3,8 vezes maior do que o de a vítima letal ser uma pessoa branca.

“Segundo os dados que nós monitoramos, as polícias participam de, em média, 36% dos eventos de tiroteio em Salvador e na Região Metropolitana. Um modelo de segurança pública baseado na ocupação dos territórios e na intensificação dos conflitos coloca toda a comunidade baiana na linha do tiro, mas o alvo preferencial tem sido meninos e homens jovens negros moradores dos bairros periféricos”, analisa o pesquisador.

Em junho deste ano, policiais envolvidos na morte de oito pessoas durante uma abordagem na cidade baiana de Itatim foram afastados de suas funções. A investigação do Ministério Público da Bahia aponta que as vítimas foram executadas e que a cena do crime foi, possivelmente, alterada. Inicialmente, o caso havia sido tratado como confronto entre policiais e suspeitos.

Para se ter noção da dimensão do problema, a Bahia, que é o quarto estado mais populoso do país, registrou mais mortes em ações policiais do que São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro juntos. Os estados do Sudeste, os três com mais habitantes do Brasil, registraram 504, 136 e 871 mortes, respectivamente. A pesquisa utiliza como fonte de dados boletins de ocorrências fornecidos pelas unidades da federação.

“Percebemos que há uma resposta desproporcional da polícia em relação ao enfrentamento da criminalidade. Em 2018, as polícias foram responsáveis por 8% do total de mortes violentas intencionais do Brasil. Em 2023, subiu para 13%”, pontua Renato Sérgio Lima, presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ele detalha, no entanto, que a tendência de aumento não acontece em todos os estados da mesma forma.

“Isso não é um padrão nacional, mas de algumas localidades, como a Bahia e o Amapá, que têm as cidades com as maiores mortes em decorrência de letalidade policial”, completa. Jequié, no centro-sul do estado, é o município com a maior proporção de vítimas fatais de violência policial no Brasil – a taxa é de 46,6 mortes a cada 100 mil habitantes.

Fonte:Correio da Bahia/Foto: Divulgação